Fernando Pessoa

O que me doí não é O que há no coração Mas essas coisas lindas Que nunca existirão...

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Noite Ó noite onde as estrelas mentem luz, ó noite, única coisa do tamanho do universo, torna-me, corpo e alma, parte do teu corpo, que eu me perca em ser mera treva e me torne noite também, sem sonhos que sejam estrelas em mim, nem sol esperado que ilumine do futuro.

Quando te vi amei-te já muito antes Tornei a achar-te quando te encontrei. Nasci pra ti antes de haver o mundo

Quero,terei; Se não aqui; Noutro lugar que ainda não sei. Nada perdi; Tudo serei

Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu. Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde.

É bonito ser amigo, mas confesso: é tão difícil aprender! E por isso eu te suplico paciência. Vou encher teu rosto de lembranças, Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias.

Contemplo o lago mudo que a brisa estremece Não sei se penso em tudo ou se o tudo me esquece O lago nada me diz, não sinto a brisa mexe-lo Não sei se sou feliz nem se desejo se-lo Tremulos rincos risonhos na agua adormecida porque fiz eu dos sonhos a minha única vida?